
Os
oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa.
Poderíamos chamá-los também de “pequena oitava”, em confronto com a
“grande oitava” das sete semanas, sem, contudo, querermos diminuir com
isto, a sua importância. Seus primórdios, entendidos como um período
celebrado com liturgia especial, remontam, no mínimo, ao começo do
século IV, e mesmo até à segunda metade do século III, como é fácil de
deduzir das homilias recém-descobertas de Astério Sofita sobre os
salmos. Astério chama o dia da oitava de “segundo ‘oitavo dia’”.
A liturgia desta oitava era marcada não
só pelo mistério pascal, como também pela consideração para com os
neobatizados que durante as celebrações diárias da eucaristia eram
introduzidos mais profundamente nos mistérios dos sacramentos da
iniciação, recebidos na noite da Páscoa. As homilias pascais de Astério,
já mencionadas, podem ser apontadas como o exemplo mais antigo de tais
“catequeses mistagógicas” de que temos conhecimento. As mais famosas,
entretanto, são as cinco catequeses de Cirilo (João?), bispo de
Jerusalém, da segunda metade do século IV, e os escritos “De mysteriis”
(Sobre os mistérios) e “De sacramentis” (Sobre os sacramentos), da
autoria de Ambrósio. Segundo Agostinho, a oitava da Páscoa é uma
“ecclesiae consensio”, um costume unânime da Igreja, tão antigo quanto a
Quadragesis (a Quaresma). Os fiéis deviam suspender seus trabalhos
nesses dias, e tomar parte nas cerimônias diárias.
Esta semana era chamada antigamente
também “semana branca” ou “semana das vestes brancas”. No Oriente é
conhecida também como semana da renovação. Inicialmente ela só terminava
no domingo, o qual, por isso, tinha o nome de domingo das vestes
brancas (domingo in albis). A partir do século VII, as vestes brancas
dos neófitos eram depostas já no sábado, em conseqüência da antecipação
da celebração da noite pascal para o Sábado Santo.
Os cânticos de entrada da oitava de
Páscoa da liturgia romana, executados pelo coro à entrada dos neófitos
em vestes brancas, eram enfaticamente sintonizados com a presença dos
recém-batizados e proclamavam a salvação por eles recebida. Assim lemos
(ainda hoje) na segunda-feira: “O Senhor vos introduziu na terra onde
correm leite e mel: e sua lei esteja sempre em vossos lábios, aleluia!”;
na terça-feira: “Deu-lhes a água da sabedoria, tornou-se a sua
força...”; na quarta-feira: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do
reino...”; na quinta-feira: “Senhor, todos louvaram, unânimes, a vossa
mão vitoriosa...”; na sexta-feira: “O Senhor conduziu o seu povo na
esperança e recobriu com o mar seus inimigos”; no sábado: “O Senhor fez
seu povo sair com grande júbilo; com gritos de alegria, os seus eleitos,
aleluia!”; e por fim, no domingo branco (domingo in albis): “Como
crianças, recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para
crescerdes na salvação, aleluia!
Adolf Adam
(in O Ano Litúrgico, Paulinas, 1982, pag. 86-87)
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